Por uma Internet (do) Comum

Ricardo Ruiz
3 min readDec 30, 2022

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Photo by Dieny Portinanni on Unsplash

Queremos reimaginar a internet. Para nós, do Instituto Procomum, isso começa com dialogar com quem já imagina e realiza, corajosamente, outras políticas, pedagogias e práticas focadas em uma infraestrutura digital comum. Queremos salientar a infraestrutura digital como uma questão crítica de justiça social.

Queremos explorar como as redes sociais e a internet mudaram a forma de ler informações e reagir a elas. Sabemos o papel da desinformação na desconstrução da sociedade tal qual conhecemos. O que queremos, agora, é reconstruir. E, assim, descobrir novos tipos de influenciadores, suas novas e velhas táticas, e o papel de usuários e consumidores na mudança e no fluxo da informação.

Queremos conhecer atores construindo a conduta para uma tecnologia responsável, tornando-a mais diversificada, multidisciplinar e alinhada ao interesse público. E dessa forma contribuir para mudar a forma como as decisões são tomadas, integrando processos deliberativos abertos e inclusivos. Envolver pessoas no processo de criação e moderação da ferramenta e do conteúdo é fundamental para o equilíbrio da sociedade conectada.

Queremos que a tecnologia possa nos ajudar a avançar sem espelhar injustiças e preconceitos sistêmicos, reunindo as várias partes interessadas para co-criar um futuro tecnológico melhor, promovendo o compartilhamento de conhecimento e a colaboração entre uma coesa comunidade em busca de uma tecnologia prudente. Uma comunidade com diferentes falas e sotaques, que se preocupa profundamente com o impacto nocivo da tecnologia somada à desinformação.

Queremos saborear as qualidades, a forma e a estrutura de florescentes espaços. e infraestruturas que otimizem e promovam um discurso com saudáveis interconexões. As lições podem ser aprendidas em coletividades de sucesso, tanto offline como online, da Wikipedia aos parques públicos, com ferramentas de escuta, mapeamento e cuidado, que possam ajudar a entender os efeitos dos excessos de informação e desinformação nas nossas vidas.

Queremos refletir como a arquitetura da rede estimula a desinformação, e quais as ferramentas de informação e conhecimento encontram saídas estruturais para esses estímulos. E, a partir disso, queremos as milhares de possibilidades. para promover um ecossistema de internet saudável e mais sustentável.

Queremos explorar políticas, ferramentas e práticas que incentivam o desenvolvimento de uma Inteligência Artificial sensível a construir inclusão e equidade em nosso mundo. Queremos extrapolar a relação entre dados pessoais, focalização de vendas e nossas opiniões, visões e comportamentos, bem como os modelos de negócios e fundos de investimento que sustentam novas e velhas iniciativas, para assim termos argumentos para a construção de plataformas para o comum.

Queremos entender como a crise climática terá efeitos significativos e duradouros na infraestrutura, conectividade e migração humana. E sabemos que algoritmos e desinformação desempenham um papel fundamental no adiamento de ações para salvarmos a nossa e as demais espécies. Queremos quem combata o negacionismo com algoritmos de recomendação de informações que favoreçam a base científica, otimizados para a verdade, e não para os cliques.

Queremos, por fim, olhar pela perspectiva cotidiana, e valorizar a construção do comum com foco no território, na produção e distribuição de conhecimentos livres, na privacidade e na gestão compartilhada de dados, com suas políticas e práticas envolvidas.

Queremos, assim, criar caminhos para que novas vozes de uma variedade de origens e perspectivas participem na construção de um futuro tecnológico melhor. E queremos comungar essas vozes agrupadas, unidas. Para que assim possamos, com nossas imaginações também entrelaçadas, construir na prática, uma necessária Internet do Comum.

Publicado originalmente em https://desinformante.com.br/por-uma-internet-do-comum/

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